domingo, 18 de abril de 2010

Uma vida, duas pessoas e uma paixão.


Vim aqui hoje, pela ultima vez, fechar as portas cerrar as janelas, por lençois brancos por cima de moveis que nunca mais serão usados só que não tenho coragem de os mandar fora. Percorri tudo o que escrevemos, reli tudo tentando encontrar algo que me deixasse mais tranquilo e ponderado, encontrei...encontrei muito amor que te dei, muito carinho que tivemos, vontades, desejos...foram tantos.
Olhei para as letras escritas por ti como se estivesse a passar a mão num móvel que sempre gostei, tento apreender a textura dele, isto tudo neste canto que foi nosso e que agora me sinto aqui só, imagino os meus ténis deixando marcas no pó que ficou no chão ao mesmo tempo que um vento frio faz essas particulas rodopiarem á volta dos meus pés, tapo esse móvel, não o verei jamais e fico a olhar para as formas dele debaixo do lençol branco apenas lhe adivinho as formas tal como aqui agora apenas adivinho o que já fomos, recordo-me de ti sinto a cabeça baixar os ombros descairem uma melancolia e tristeza infinita atravessam o meu ser, sinto-me bem com elas..companheiras de tanto tempo e que tu conseguiste afugentar só para depois se entranharem em mim com mais força ainda. Sento-me num sofá imagino ele parecido com os teus...em frente á lareira agora apagada e que tantas vezes esteve quente para nós dois, enrolo o meu cigarro com gestos mecanicos e ouço-te dizeres ; está todo torto! Fico a sorrir pois sei que agora já nada me dizes, mas fico a sorrir na mesma enquanto acendo o cigarro e veja que já não há luz neste nosso canto, apenas a luz fraca e tremeluzente da chama do isqueiro, solitária, amarela e tenue. Sentado, fumando dou por mim a desejar que fosses ler isto tudo novamente, que percorras esta casa que foi nossa e que leias o que escrevemos, dou por mim desejando que isto não fosse o fim e que no momento em que eu fechar pela ultima vez esta porta ela não queira fechar, que a fechadura esteja estragada ou que a porta nem sequer se mexa, apenas dou por mim a desejar isso. Acabo o cigarro, olho novamente em volta...na penumbra, fotos tuas, do teu corpo, da tua cara, vou-me lembrar sempre dela mesmo com o rancor que agora sinto em mim, mas não vou ligar a isso, hoje vou sair deste canto tranquilo sabendo que dei o melhor de mim mas que tu não eras a indicada para o receber, não te vou desejar mal, no entanto o teu bem tambem me irá ser indiferente.
Mando a beata para dentro da lareira fria...
Está na hora de ir, sair para a rua sentir o frio da noite ainda mais cortante do que dentro de casa, fecho a porta e com ela a vida que sempre sonhei.

4 comentários:

  1. :(

    Vou voltar mais tarde :)

    Abraço da Luz para alguém especial

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  2. Luz:
    Senti-la por perto faz-me bem... sabe por onde vagueio...
    Obrigada por me acompanhar e ter sempre uma palavra de conforto!

    Um abraço.

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  3. Momentos,
    Aqui estou eu! Eu disse que voltava :) Ainda sou do tempo em que a palavra conta!
    Este texto, esta dor, este sentir, este recuo que faço no tempo sempre que aqui entro, é como um soco no estômago..., não é mau, é antes o recordar o tanto que não deixo de recordar e, também sei que irei recordar sempre, não dá, está entranhado em mim e, eu lido com isso conscientemente, sem trauma, sem medo, assumo e assumo-me assim mesmo com este sentimento que me detonou, não vou negar o que o outro quer negar, não eu vou viver assim, venha o que vier, mas é desta forma que eu sei ser e, assim vou viver, sei viver comigo, há quem não o saiba, mas temos de saber viver com nós próprios antes de querermos viver com alguém ou ter alguém que também queira caminhar connosco, caso contrário este texto é o reflexo do que faltou, do que ficou, do que foi dito ou, não...
    Estou por aqui também e, obrigada :)

    Abraço pleno de Luz

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  4. Luz:
    Cada vez que mexo em textos como este... nem imagina como fico, lembranças, momentos... gestos, sorrisos... só tenho uma palavra na minha cabeça, porquê, porquê, porquê...
    Tenho de continuar, não posso parar...

    Um abraço.

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