sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Uma coisa...


Por vezes sem avisar desato a correr, fujo como quem tenta fugir de si próprio na tentativa de desembaraçar-me deste pensamento pegajoso, bandido, que insiste e teima colado a mim, cruel. Não é a minha sombra, sou eu, a sombra e este pensamento entranhado em mim. E só queria libertar-me dele um instante que fosse.
Obstáculos, caminhos sinuosos, descidas a pique, quedas no vazio que é preciso saltar, muros supostamente intransponíveis, chão lamacento, mergulho quase me afogo, volto à tona e prossigo!
Olho para trás e lá vem ele... resiste.
A falta que me fazes!
A falta que me fazes!
A falta que me fazes...
Este pensamento é dos bravos, o sangue corre-lhe nas veias veste-lhe o corpo descarnado de trilhos com vida, tem nervo não desiste. Oiço gritar atrás de mim, é ele enquanto afasta bocados de lama ignorando feridas dos caminhos sinuosos por onde tentei larga-lo.
- Tu aí! Grita-me.
E ri desalmadamente.
- Não te livras de mim!
E volta a rir desalmadamente, diverte-se, para ele é uma espécie de recreação, será assim tão desumano?
Paro, agarro-o pelo pescoço descontroladamente enquanto lhe grito enraivecida.
- Que queres tu? Deixa-me, deixa-me descansar um pouco!
Afrouxo-lhe o pescoço enquanto sacode mais uma vez a lama que traz colada a si, suspira não de cansaço suspira por mim talvez, suspira por mim tenho a certeza. Olha-me e diz sorrindo, desta vez o sorriso denuncia uma expressão humana.
- Sossega.
E assim me ponho no sono enquanto uma lágrima acorda, para a noite não se sentir tão desamparada.


Beijo com saudades.

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