sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Apenas




A minha avó pertence-me, pertence à infância, embora não a veja sentada no chão a brincar comigo. A minha avó não era mulher de frases sábias, de histórias de encantar, nem sequer de histórias apenas. Não era a avó matriarca, duvido que alguma vez tenha lido um livro e também não lhe conheci medalhas, diplomas ou qualquer mérito emoldurado. A minha avó era uma mulher pouco faladora, tranquila e discreta. Da minha avó não me lembro de conselhos que permanecem gerações na família. Da minha avó lembro-me do colo e dos abraços com cheiro a morangos, a minha avó cheirava a morangos. Se fechar agora os olhos com muita força, com tanta força como se fosse capaz de a trazer de volta, com força suficiente para a ir buscar aí para onde foi avozinha, mesmo assim, mesmo de olhos fechados com tanta força já não consigo trazer de volta a imagem do seu rosto, já não me lembro do seu rosto. Lembro-me dos seus abraços de morango, cheirava tão bem avozinha. Não fique triste por não me lembrar do seu rosto avozinha, sempre que cheiro um morango dou-lhe com cada abraço avó. E verdade verdadinha avó, prometo sem cruzar os dedos como quando lhe dizia umas mentirinhas como aquela dos rebuçados que desapareceram deixando um rasto de papeis que os embrulhavam, lembra-se, prometo que enquanto houver morangos, para mim nunca morrerá avozinha.

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Beijo Beijo Beijo!
Gosto-te...

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